Copo meio cheio, meio vazio

De uns tempos pra cá me peguei a pensar sobre a maldade. Não que eu venha ser um pensador daqueles. Ao contrário.

Os animais não são maldosos, são instintivos. O homem é maldoso. Muito maldoso.

Os animais não sobrevivem na natureza, ao contrário, vivem confortavelmente na natureza, dela fazendo uso de acordo com suas necessidades, nem um pouco mais, nem um pouco menos. O homem usufrui da natureza, dela retirando vorazmente o que a ela não deu.

Os animais não modificam a natureza. Conhecem-na, e se movimentam dentro e através dela, se integram a ela, mesmo sem fazer parte de sua essência. O homem a desintegra, depois a cimenta.

Voltemos à maldade.

A maldade é humana, engendrada no pensamento abstrato e formatada no desejo de realizá-la. Se o homem não falasse, seria exteriorizada pelos seus atos. Mas como fala, é exteriorizada por palavras e atos.

Talvez a fome extrema iguale o homem aos demais animais. Porém, o animal extremamente faminto mata, sacia a fome e deixa sua presa. O homem extremamente faminto mata, sacia a fome e esconde sua presa.

O homem extremamente faminto é a maldade em seu expressão maior. Seja faminto de justiça, seja faminto de guerra, seja faminto de paz, seja faminto de iniquidade. Não importa.

Um dedo de prosa.

Zé da Truta, emérito beberrão e “filosófo” nas horas vagas, costuma dizer que “o homem é presa fácil de sua maldade, pois a pratica primeiro em si, pois se ao contrário fosse essa ação não causaria reação, e a maldade necessariamente necessidade  duma reação na mesma intensidade. É como atravessar nadando um riacho manso que dá pé e sentir-se caminhando sobre as águas do mar revolto”.

Esse Zé da Truta, esse Zé da Truta, diz coisas que poucos entendem, mas esses que entendem costumam sorrir com certo sarcasmo diante do significado de seu palavreado.

“A maldade é um copo pela metade de fel, tanto pode estar meio cheio, como meio vazio, mas será sempre fel que o copo tem dentro de si”, completa ele.

Pedro Paulo de Araujo Junior (28.06.2015)

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